No dia 28 de abril de 2025, a
Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou, por 409 votos a 2, o Take
It Down Act, proposta legislativa bipartidária que criminaliza a publicação de
imagens íntimas não consensuais, incluindo aquelas geradas por inteligência
artificial, conhecidas como deepfakes. O projeto foi impulsionado pelo caso de Elliston
Berry, adolescente de 14 anos cuja imagem foi manipulada digitalmente para
gerar conteúdo pornográfico, o qual permaneceu disponível por meses em
plataformas como o Snapchat. Já aprovado pelo Senado em fevereiro, o texto
agora segue para sanção presidencial. De autoria do senador Ted Cruz (R-Texas)
e co-liderado pela senadora Amy Klobuchar (D-Minnesota), o texto recebeu amplo
apoio de representantes de ambos os partidos, da ex-primeira-dama Melania Trump
e de empresas do setor tecnológico como Meta, Google, Microsoft, Amazon e
TikTok. O projeto também contou com apoio de mais de 120 entidades, entre elas
a RAINN (Rape, Abuse & Incest National Network), o National Center on
Sexual Exploitation e o Fraternal Order of Police.
O projeto estabelece que
plataformas digitais e redes sociais devem remover, no prazo máximo de 48 horas
após notificação formal da vítima, qualquer conteúdo íntimo publicado sem
consentimento, inclusive deepfakes, sendo obrigadas também a tomar medidas
contra a replicação do material. A medida visa acelerar a retirada desse tipo
de conteúdo da internet, diante de sua natureza altamente lesiva à dignidade,
honra e saúde mental das vítimas — majoritariamente mulheres e adolescentes. A
nova lei ainda tipifica como crime federal a publicação ou ameaça de publicação
de imagens íntimas não autorizadas em âmbito interestadual, mesmo quando
geradas por computador, desde que representem realisticamente pessoas
identificáveis. O texto também reforça que o consentimento para criação da
imagem não configura autorização para sua divulgação. Nesse contexto, o Take It
Down Act representa um avanço normativo que procura alinhar a proteção dos
direitos da personalidade às novas dinâmicas tecnológicas que ampliaram o
potencial de violação desses direitos.
Apesar de seus aspectos
positivos, o Take it Down Act também levanta preocupações no campo das
liberdades civis e do direito digital. Organizações como a Electronic Frontier
Foundation alertaram para os riscos de censura excessiva e remoções indevidas,
dada a obrigação de retirada de conteúdo em apenas 48 horas, mesmo antes de uma
análise mais profunda sobre a veracidade da denúncia. Segundo especialistas, há
receio de que plataformas — especialmente as menores — adotem uma postura de
remoção automática para evitar riscos legais, o que pode afetar a liberdade de
expressão e a preservação de conteúdos legítimos, como obras artísticas,
educacionais ou jornalísticas.
O Take It Down Act complementa
uma legislação anterior, de 2022, que criou uma via civil para as vítimas
processarem autores de publicações de NCII, mas cuja eficácia era limitada
devido a dificuldades probatórias e custos processuais. Agora, com a
criminalização específica e a atribuição de competência à Federal Trade
Commission (FTC) para fiscalizar o cumprimento da norma, os Estados Unidos
caminham para estabelecer um marco regulatório mais robusto de enfrentamento à
exploração digital.
A aprovação do Take It Down Act
consolida uma tendência crescente de responsabilização legal pelo uso abusivo
de tecnologias baseadas em inteligência artificial, especialmente quando
utilizadas para violar a dignidade e a privacidade de indivíduos. Embora a
medida não esgote os desafios trazidos pelos deepfakes e outras formas de
manipulação digital, ela representa um marco importante na busca por equilíbrio
entre inovação tecnológica e proteção de direitos fundamentais.
Nesse sentido, vale lembrar que,
recentemente, o Brasil sancionou a Lei nº 15.123/2025, que altera o artigo
147-B do Código Penal para agravar a pena de violência psicológica contra a
mulher quando cometida mediante o uso de inteligência artificial ou qualquer
outro recurso tecnológico que altere imagem ou som da vítima. A pena, que era
de reclusão de seis meses a dois anos e multa, passa a ser aumentada da metade
nesses casos. A medida visa coibir práticas como a criação e disseminação de
deepfakes com conteúdo sexual falso, que têm sido utilizadas para humilhar,
constranger e chantagear mulheres, causando danos emocionais significativos.
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Fontes: Take it Down ACT | Take it down act passes | Congress approves
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