O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva definiu que o governo enviará ao Congresso dois projetos de lei voltados
à regulamentação das plataformas digitais. As propostas devem ser encaminhadas
somente após a votação do PL 2628/22, conhecido como “PL da Adultização”, que
já está em tramitação e cria medidas de proteção a crianças e adolescentes em
ambientes digitais. Embora dialogue com os mesmos temas, este projeto não faz
parte do pacote do Executivo, mas é considerado um passo prévio da agenda
regulatória.
O primeiro projeto do governo,
elaborado pelo Ministério da Justiça e pela Secretaria de Comunicação Social
(Secom), deve estabelecer regras para a regulação de conteúdo. Segundo
informações preliminares, ele atingirá plataformas com mais de três milhões de
usuários e imporá o dever de prevenção e precaução, exigindo medidas contra
fraudes, crimes contra menores, incentivo à violência e outras práticas
ilícitas. Estão previstas obrigações como a criação de canais de denúncia,
publicação de relatórios periódicos e maior transparência nos critérios de
monetização e publicidade.
A ANPD, que poderá ser
transformada em Agência Nacional de Proteção de Dados, seria responsável pela
fiscalização e teria poderes para advertir, multar e, em casos de
descumprimento reiterado, suspender temporariamente o funcionamento das
plataformas. Essa suspensão poderia chegar a 30 dias, prorrogáveis por mais 30,
sem necessidade de decisão judicial. Bloqueios mais longos dependeriam de ordem
judicial. A medida, considerada essencial pelo governo para garantir eficácia
da regulação, já gera críticas de opositores e das próprias big techs, que
apontam risco de censura. Até o momento, não há texto público do projeto, e os
detalhes foram apenas sinalizados pelo governo.
O segundo projeto, de autoria do
Ministério da Fazenda, mira a regulação econômica das big five — Alphabet
(Google), Amazon, Apple, Meta e Microsoft. Inspirada em legislações
internacionais, a proposta prevê a criação de uma Superintendência de Mercados Digitais
no Cade, para investigar condutas anticoncorrenciais como taxas abusivas, venda
casada, falta de transparência em buscadores e práticas que prejudicam empresas
menores. Assim como o PL de conteúdo, o texto oficial ainda não foi publicado,
e as medidas são conhecidas apenas por meio de informações preliminares.
As iniciativas seguem tendência
global. Na União Europeia, normas semelhantes já estão em vigor pelo Digital
Markets Act (DMA) e pelo Digital Services Act (DSA). No Brasil, os novos
projetos dialogam com a recente decisão do Supremo Tribunal Federal que, ao
julgar a constitucionalidade do Artigo 19 do Marco Civil da Internet em junho
de 2024, reafirmou a responsabilidade das plataformas em situações específicas
de violação de direitos.
Sob a ótica jurídica, os PLs
sinalizam avanços na definição de responsabilidade civil objetiva para
conteúdos monetizados, fortalecem a atuação administrativa do Cade e trazem
maior previsibilidade regulatória. Por outro lado, também levantam debates sobre
limites da intervenção estatal na moderação de conteúdo e na livre concorrência
digital.
Com o envio dos dois novos
projetos, aliado à tramitação do PL da Adultização, o governo busca consolidar
um marco regulatório nacional para as big techs, que tende a pautar a atuação
das plataformas digitais nos próximos anos e influenciar o debate internacional.
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Fontes: Regulação Big Techs: Lula vai enviar dois projetos ao Congresso | Adultização: o que diz o PL sobre proteção de crianças nas redes e quais são as principais mudanças | Projeto sobre big techs exclui fake news e preve regulação no atacado | Com dois pls, governo Lula busca regular conteúdo e concorrência nas redes – Brasil de Fato | Regulação econômica e de conteúdos: como será ofensiva de Lula sobre redes.
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