O Congresso dos Estados Unidos está debatendo
uma proposta de moratória federal que suspenderia, por um período de 10 anos, a
aplicação de leis e regulamentações estaduais ou locais específicas sobre
inteligência artificial (IA), como modelos e sistemas automatizados de decisão.
A medida, incluída em um projeto de lei de reconciliação orçamentária já
aprovado pela Câmara dos Representantes e aguardando análise no Senado, busca
centralizar o controle regulatório sobre IA, impedindo que estados, cidades ou
condados legislem de forma autônoma sobre o tema. Essa proposta levanta
implicações constitucionais relevantes quanto ao equilíbrio federativo, ao
invocar a cláusula de preempção para limitar competências dos estados. Também
pode haver reflexos na garantia do devido processo legal, ao restringir a
atuação local na proteção de direitos fundamentais potencialmente impactados
pela IA, como privacidade, não discriminação e liberdade de expressão.
Apesar da amplitude da proposta, ela prevê
exceções para leis que envolvam sanções penais ou que sejam tecnologicamente
neutras. A preservação da competência penal dos estados e das normas
tecnicamente neutras parece buscar respaldo constitucional, respeitando o poder
de polícia local. No entanto, a subjetividade do critério de “neutralidade
tecnológica” pode gerar disputas judiciais quanto à sua interpretação e
aplicação prática.
A iniciativa tem provocado forte debate entre
congressistas, especialistas e a mídia, com opiniões divergentes sobre os
impactos de limitar a regulamentação local. Em carta enviada ao Congresso, 260
legisladores estaduais de todos os 50 estados — incluindo democratas,
republicanos e um independente — manifestaram oposição à medida, argumentando
que ela compromete a capacidade dos estados de responder a riscos emergentes
relacionados à IA, como deepfakes, golpes financeiros e impactos no trabalho e
na juventude, reforçando a importância do protagonismo legislativo local diante
de desafios contextuais e urgentes. A limitação à autonomia dos estados pode
impulsionar ações judiciais por entes federativos que aleguem violação ao pacto
federativo e à sua capacidade de proteger o interesse público regional.
A justificativa para a moratória, já aprovada
pela Câmara, é evitar uma fragmentação regulatória que prejudique a
competitividade dos EUA frente à China. Porém,
críticos apontam que ela compromete a soberania estadual e a inovação
legislativa local, e que a centralização justificada por interesses econômicos
e geopolíticos deve ser avaliada à luz do federalismo cooperativo, que
privilegia soluções compartilhadas em temas complexos e sensíveis como a
regulação da IA. Para esses críticos, a imposição de um modelo único pode gerar
efeitos adversos sobre a capacidade adaptativa dos estados e sobre a segurança
jurídica no longo prazo.
Caso rejeitada a proposta, os republicanos
podem apresentar projeto autônomo, o que exigiria consenso bipartidário. A
controvérsia reforça que a centralização regulatória em IA será tema de
intensas disputas políticas e institucionais nos EUA. Diante disso, é provável
que a Suprema Corte dos EUA seja acionada para definir os limites da atuação
federal e estadual sobre a matéria, estabelecendo precedentes estruturantes
para a governança da inteligência artificial no país.
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tecnologia e analisam seus impactos jurídicos.
Ana Julia Pozo Salvador
Fonte: médium.com | regulation moratorium state
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